segunda-feira, 19 de julho de 2010

Minha querida bilheteria

Antigamente, ir ao cinema ia muito além de um simples programa cultural. Após algumas horas de sessão, tinha-se outras tantas para  discutir a essência da película, os supostos argumentos utilizados pelo diretor para abordar um determinado tema, muitas vezes denso e profundo. Era um exercício de conhecimento de si mesmo e das mazelas da sociedade.
Hoje, basta olharmos o jornal para percebermos que as opções nas salas de cinema estão restritas a filmes de ação ou de jovens vampiros. O cinema apela definitivamente para os blockbusters, ou seja, a única finalidade deste meio de comunicação é a busca por bilheteria.
O cinema nacional também sofre deste mal, uma vez que busca aproximar o cinema da televisão para atrair espectadores ou foca suas produções em filmes policiais com grande apelo para a violência.É o cinema pós Tropa de Elite.
Dificilmente, uma película com apelo mais profundo estará disponível em grandes salas de cinema. Até mesmo os filmes americanos ganhadores de Oscar que tem esta proposta estão encontrando dificuldade para ter seu lugar ao sol.
Tempos vazios em salas lotadas!!!

domingo, 18 de julho de 2010

E tudo que a antena captar, meu coração captura...



Existem inúmeros questionamentos sobre se a televisão é um bem ou um mal.Temos de um lado,seu caráter democratizador da cultura, uma vez que está disponível a todos, indistintamente.Entretanto, discute-se seu papel de formador da opinião pública e sua função alienadora e manipuladora, por se aproveitar da natureza emocional, intuitiva e irreflexiva da comunicação por imagens.
Na verdade, tanto um aspecto quanto o outro estão presentes. A televisão, como meio de comunicação, não se presta a tais maniqueísmos, apesar de, por ser parte da indústria cultural, encontra-se marcada pela ideologia da classe dominante.Os problemas, no entanto, começam a se agravar a partir do momento em que o meio passa a ser usado.É sua utilização, portanto, que deve ser analisada,utilização que se dá em uma determinada sociedade, historicamente situada e composta por sujeitos com características específicas.
Para tanto, precisamos levantar os elementos que compõem a linguagem televisiva e sue uso na sociedade brasileira.
Precisamos lembrar que no Brasil o canal de televisão é uma concessão do Estado, podendo ser suspensa a qualquer momento- por essa razão só tem canal os grupos que interessam ao Estado, que não farão oposição contínua nem defenderão um tipo diferente de ideologia.Outro ponto é o fato de que a televisão é um empreendimento comercial privado e, como tal, visa o lucro; é sustentada pelos anunciantes, que, antes de gastarem sua verba de publicidade,verificam o índice de audiência de cada programa.
É neste ponto que a televisão assume, muitas vezes, sua forma de espetáculo para chamar atenção, atrair e prender o olhar do espectador.
A televisão, trabalhando sobre a forma de apresentação de seus programas, transforma qualquer contéudo em espetáculo de grande eficácia visual,transformando tragédias em grandes circos televisivos.
As condições de recepeção da programação televisiva ajudam a "naturalizá-la", isto é, a fazer com que passemos a considerar natural tudo o que é apresentado pela televisão, uma vez que está dentro do nosso mundo habitual. E assim como aceitamos o nosso cotidiano, aceitamos o que ela oferece, passivamente, sem maiores discussões ou críticas.
A questão da recepção passiva é perfeitamente explicável em termos de Brasil, se pensarmos no número de analfabetos, de alfabetizados que abandonaram a escola, sem terminá-la, nos que não aproveitam os ensinamentos gerados pela própria escola.
Nessa perspectiva, portanto, a discussão não deve girar em torno de se devemos ou não assistir à televisão, nem se esta é um bem ou um mal, pois ela é uma realidade do nosso mundo. O que devemos discutir é como assistir a televisão de forma mais crítica, percebendo os valores que estão veiculados, discutindo com outras pessoas, por que eles são propostos e se servem para nós, para nossa realidade.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bye, bye Brasil


O filme Bye, bye Brasil de Cacá Diegues completa 30 anos este ano.Considero este filme como um dos mais emblemáticos filmes já produzidos e muito adequado para a época em que foi rodado (período de agonia da censura no cinema brasileiro).

A película conta a história de artistas mambembes que perambulam pelo interior do Brasil em busca de espectadores que ainda não haviam sido sugados pela diversão televisiva (segundo os personagens principais cidades que ainda não tinham "espinhas de peixe",numa alusão às antenas de televisão).Temos aqui um quadro de um país miserável, analfabeto e decadente muito antes desta imagem ser retratada em Central do Brasil (1998).

A história gira em torno Lorde Cigano e Salomé, protagonizados por José Wilker e Beth Faria que dão um show de interpretação teatral. São personagens densos e caricaturais. Se juntam a eles os nordestinos Ciço e Dasdô (Fábio Jr e Zaira Zambelli).

Boa parte do filme se passa na Transamazônica, numa referência ao país grande,excludente e exótico que vivemos. Para fechar com chave de ouro a trilha sonora é assinada por Chico Buarque.

Para quem gosta de cinema nacional é um filme obrigatório!!!

sexta-feira, 27 de março de 2009

O novo capitalismo


Em 1919, Lênin tinha plena consciência de que o capitalismo teria saída sim e que não iria se desfazer de forma simples como imaginaram muitos marxistas ingênuos. Sabemos que após a Grande Depressão dos anos 30 e, sobretudo, após o fim da Segunda Grande Guerra (1939-1945) o capitalismo expandiu-se de forma dinâmica e alcançou um crescimento global em ritmo assustador.
Hoje não falamos mais no fim do capitalismo e sim na sua constante necessidade de mudança. O próprio Adam Smith (1723-1790), fundador da economia moderna, nunca afirmou que a economia de mercado seria suficiente ou que deveríamos aceitar a predominância do capital.
Para ele, a generosidade, a justiça e o espírito público eram muitos mais úteis do que o próprio lucro e a necessidade dele no mundo corporativo.
Todas as grandes nações capitalistas centrais do mundo atual dependem de transações que vão muito além do espaço puro e simples do mercado. O desempenho adequado e trasnformador deste sistema, ao longo da História, foi baseado em combinações institucionais que iam muito além da busca desenfreada pelo lucro.
O comércio não deve ser encarado como fonte única de interesse próprio, mas necessita de forma urgente de outros valores mais coletivos e humanitários para funcionar de forma adequada.
É o ponta-pé inicial para sairmos da atual crise deste sistema.



quinta-feira, 26 de março de 2009

O conhecimento histórico



Como todas as ciências, a História tem especificidades, trabalha com formas de raciocínio próprias a ela, tem limites e exigências.Uma dificuldade encontrada quando falamos de nossos estudos é estabelecer a diferença entre o trabalho historiográfico sobre um determinado tema e o simples juízo de valor.
Por exemplo, quando abordamos o preconceito racial, todos nós temos uma opinião e determinadas atitudes a esse respeito.Alguns condenam a discriminação; há ainda os que afirmam ser o preconceito pura injustiça.Trata-se apenas de opiniões sobre o assunto.
Outra coisa, e bem diferente, é analisar historicamente o racismo, pesquisar suas origens, a quem ele serviu ou ainda serve, quais interesses estão por trás de uma teoria racista e em que contexto ela foi elaborada.
Eis a diferença! Não se trata apenas de opinar ou julgar quem está certo ou errado.O trabalho do historiador é localizar e compreender historicamente cada acontecimento, tentar entender por que as pessoas de determinada época agiam desta ou daquela maneira e, finalmente, contribuir para formação de valores e de uma visão de mundo mais crítica e abrangente.





Ana Carolina



A cineasta paulista Ana Carolina é para mim uma das mais autorais cineastas do Brasil. Fez filmes importantes e marcantes como Mar de Rosas, uma espécie de road-movie onde retrata a conturbada relação entre mãe e filha. Trata-se de um filme de arte que beira a insanidade com tintas fortes e, conseqüentemente, perturbador. As protagonistas são Norma Bengell (como a mãe Felicidade) e Cristina Pereira, no papel da filha demente. É um filme essencialmente surrealista e sofisticado e vale a pena conferir.